NAS ASAS DO BEIJA-FLOR
Eu pedi ao Senhor Deus um poema de amor
E que este fosse escrito nas asas do beija-flor.
Pedi-lhe também a paz pra esse mundo de rancor,
E que ela fosse posta nas asas do beija-flor.
Que nos jovens e crianças houvesse mais resplendor.
E o entusiasmo da vida no bailar do beija-flor
Que os casais de namorados, se amassem com mais fervor.
Pulsasse seus corações como o do beija-flor.
Que viesse um amor profundo, que superasse o rancor.
E que o coração do mundo fosse o do beija-flor.
Mas, ah! O Senhor não ouviu, só entendeu o meu clamor,
E trouxe a paz pra esse mundo, o poema e o amor,
Não nas asas de um pássaro,
Não no perfume da flor
Mas nas mãos de Jesus Cristo,
Filho do Nosso Senhor.
Que supera as maravilhas
Das asas do beija-flor.
Flávio Martins
Canção do Exílio
Nessa terra sem palmeiras,
Ouço a bala sibilar;
As chibatas chicoteiam,
Só mata o povo de cá.
Nosso céu não tem estrelas,
Nossas várzeas não têm flores,
Nossos bosques não têm vida,
Nossas vidas têm mais dores.
Se andar sozinho à noite,
Bala perdida vai me achar;
Nessa terra sem palmeiras,
Ouço a bala sibilar.
Minha terra só tem dores,
Que tais só encontro eu cá;
Se andar sozinho à noite,
Bala perdida vai me achar;
Nessa terra sem palmeiras,
Ouço a bala sibilar.
Não permita Deus que eu corra,
Nem a bala me encontrar;
Não quero sentir mais dores
Dos manos que perco eu cá;
Sem qu’eu veja mais palmeiras,
Sem a bala sibilar…
Valdeck Almeida de Jesus –
De Últimos cantos (2017)
NOITE
Sou a bela negra com a boca multicor
Beijo o dia branco com a língua da lua
Observo uma Terra parcialmente nua
Na penumbra desvelo o vai e vem a molhar
Litorais fecundos abraçados ao mar.
Ofuscando-me sempre para desnudar
Belas canções do poeta e do violeiro
As mulheres da vida ganhando dinheiro
Exponho à vista os segredos celestiais
O mais belo cometa ou auroras boreais.
Revelo estrelas dançando constelações
Inspiro o misterioso e expiro amor
Relações sob o manto negro acolhedor
Em leves sonhos e o pesado despertar
Velando o sono de todos, sem descansar.
E desenterro momentos ultrarromânticos
Insones solidões, as luzes das cidades
Acesas devido ao dia ou pelas saudades
Que a vigília exala pesadelos soturnos
As lembranças orvalham dos olhos noturnos.
Estou às madrugadas transpirando sereno
Matando com a fome das feras notívagas
Dos amores reais ou das paixões acrílicas
Das serenatas rompendo o silenciar
Deixo minha serenidade repousar.
Paulo Esdras
DEUS, FAMÍLIA e PÁTRIA
No momento vivemos,
num país difícil e corrupto.
Onde força maior se dispersa
ou se embota, sem coalizões ao bem!
Muito mais que isso!
“E preciso que acreditemos em nós mesmo”.
Acreditemos no bem,
só assim venceremos o mal!
Esse mal que se enraiza,
cria coalizões para se espalhar,
e plantar o “universo do mal”,
assim, crescer forte…
É o mal contra o bem,
é o mal que destrói raízes,
e se empodera para si mesmo,
destruindo: Deus, Pátria, Família.
Cria o universo do mal,
com a pobreza e deterioração do homem.
Constituindo seu símbolo e bandeira,
com a hoste do mal…
PALAVRA
Expressando qualquer sentimento
É transporte de pensamento
Que por bem ou por mal direciona
Faz ferida ou dá contentamento.
Se exprime prazer – “ora bolas”
Vale muito, pois traz alegria,
Mas, se diz agressão, desenrola
Só tristeza, angústia e agonia
Ao usa-la é preciso cautela
Para o sim ou o não, como queiras,
Será luz ao caminho que espera
Tempestade sem abrigo ou fronteiras.
E assim, quando dizes a alguém
A incauta palavra sem rédea
Sentirás o reflexo imediato
Do estrago que causas com ela
Mas se soltas palavra suave
Com intenção de conforto consciente
Terás logo a resposta correta
Do queres fazer realmente!
POESIA
A poesia magnetiza, imanta, levita, planta, encanta, levanta
A poesia adianta no tempo, canta ao vento, dança no ar, em todo lugar
A poesia é a arte que inventa, que vem aglutinar,
A poesia instrui, insiste, invade a sala, atormenta os malas
A poesia dá voz e liberta, desperta a força da fala
Grita, clama , chama, toma a alma
A poesia toca o coração, amansa o leão
A poesia excita, traga o beijo, desperta o desejo de amar
O poeta vê ao longe, o depois de amanhã
A poesia tem manha, não se acanha
Exala o amor, espanta a dor
A poesia é direta, objetiva, quando quer
Nos versos metrificados rima, anima, abduz
É atrevida, invasiva, questionante, exalta a luz e mergulha nas trevas
A poesia enxerga o caminho, as tenras plantas, os insetos, os pássaros…
Os bichos rastejantes, as cenas humilhantes…
A mendicância, a intolerância, a ciência que emburrece.
Vê o ser humano cego, os desumanos, os tortos,
As favelas desassistidas, vidas e vidas perdidas no caos.
A POESIA é VIVA, é um porto, um cais.
Vera Passos
Partida
Você se foi…
E o silêncio se fez prenhe de gritos
De urgências perdidas
Nos respiros da madrugada.
Você se foi…
E um horizonte cego se descortinou
Na sofreguidão dos olhos escondidos
Das lacunas pérfidas da memória.
Você se foi…
E o verão sangrento se abriu no mar
Na melancolia mística do tempo
De correntezas fincadas na estação.
Você se foi…
O trem do esquecimento não foi mais o mesmo
O sagrado e o profano se encontraram no abismo
Confluência de ritmos e cores na alvorada.
Você se foi…
E o vazio se enche de incertezas
Na teia de cicatrizes e pecados
Das peças do xadrez reinventadas.
Rita Queiroz
[Confraria Poética Feminina]
TOCA O BARCO
Porque tudo muda em segundos
E tudo na vida passa
Vêm as lembranças
Dos momentos vividos
Emocionantes entre
Choro e lágrimas
Guardamos o que tem de melhor
Alma que segue em paz
Dando continuidade
Porque o mundo gira
O gênio nem sabia
O quanto era querido
E hoje descansa
Dorme
Enquanto aguarda
O chamado de Deus
Fica a gratidão
Gente…
Toco o barco!
Cada um na natureza tem seu imutável papel,
escrito nos livros ou esculpido nas rochas,
pintado nos quadros ou rupestes registros nas grutas,
o beijo sugador no nectar da flor,
suas asas abanam a “dor” no desvirginar da flor,
o penetrante bico do beija-flor…
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