SONETO FRIO
Qual folha ao léu em fim de invernada
Hibernal frialdade em desmedido tédio
Lá vou eu, numa alienação consternada
Iglu oco, glacial, sem amor, sem assédio.
Qual timão quebrado d’uma nau sem rumo
D’um negro oceano de vagas carnívoras
Qual gafanhoto errante no afã consumo
Deslizando no gelo em andanças herbívoras.
Frio, muito frio… Com intenso ar de necrotério
Frio, muito frio… Sempre em degraus negativos
Frio, muito frio… Com brumoso ar de cemitério
Doentios pneumos-bacilos devoram assim
Os pulmões, já sem cura, sem sedativos,
Lá vou eu, na invernada em busca do fim.
(do livro “Tratado de Nostalgia”, 2003)
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